Da Cultura ao estilo de vida do carioca, a literatura brasileira revela ao turista toda a diversidade de uma metrópole que inspira artistas por todos os seus cantos e tempos

Pão de Açúcar, Corcovado, Copacabana… desses lugares você, no mínimo, já ouviu falar, certo? Conhecido pelos atrativos naturais, belezas arquitetônicas e o jeito inconfundível de ser do carioca, o Rio de Janeiro é uma cidade pulsante e de muito calor, seja ele humano, seja pelos 40º nos termômetros da cidade! O sol e o mar fazem parte do imaginário de turistas do mundo todo que escolhem a cidade como o lugar perfeito para passar as férias, celebrar o réveillon ou brincar o Carnaval. Mas, o Que Mais Tem no Rio além do que mostram os cartões postais? Descubra com a gente a Literatura na Cidade Maravilhosa!

 

Há séculos inspirando a literatura brasileira, o Rio ganha o olhar de escritores e poetas que encontram nas ruas, na História, no modo de viver e nas mais diversas manifestações culturais fontes inesgotáveis de livros de contos, crônicas, romances, poesias… Mas se engana quem pensa que são apenas os cartões postais mais famosos que ganham as letras das páginas: já faz tempo que todos os cantos da cidade despertam os mais profundos encantamentos!

Ainda no século 19, escritores como Machado de Assis viam nos espaços urbanos o cenário ideal para as suas histórias. O poeta, cronista, dramaturgo e jornalista nasceu no Morro do Livramento e, depois de adulto, viveu nos bairros (até então) bucólicos do Catete e do Cosme Velho. Machado escreveu diversas obras contemplando ruas e locais do Rio de Janeiro como pano de fundo. Em seu livro “Helena” (1876), o desenlace de um amor proibido acontece no bairro do Andaraí, na Zona Norte da cidade. E no clássico “Dom Casmurro” (1899), a rua dos Mata-Cavalos, tantas vezes citada no livro, é atualmente a Rua do Riachuelo, localizada no Centro, próxima aos Arcos da Lapa.

 

Rua Riachuelo era a antiga rua dos Mata- Cavalos

Rua Riachuelo, antiga rua dos Mata-Cavalos presente na obra de Machado de Assis.

 

Outro caso curioso é a famosa Ilha de Paquetá, localizada na Baía de Guanabara, que ganhou notoriedade por causa do livro “A Moreninha” (1844). Inaugurando o movimento do Romantismo no Brasil, a obra de Joaquim Manuel de Macedo traz o amor de Augusto e Carolina na fictícia ilha onde a jovem morava com a família. Atribuiu-se a Paquetá o lugar para o imaginário desse enredo onde, posteriormente, foram gravados um filme e uma novela de mesmo nome. Considerada a Ilha dos Amores, o bairro é marcado por forte presença da história indígena e está localizado a pouco mais de 17 km do Centro da capital. Com acesso apenas por barca, ela atrai turistas e cariocas apaixonados.

 

Pequena África: ancestralidade, cultura e literatura

Já no século XX, João do Rio, um dos principais jornalistas e cronistas do período, retratou os hábitos e costumes da sociedade. A sua obra “As Religiões no Rio”, de 1904, proveniente de uma série de reportagens, traz uma pesquisa e um mapeamento das religiões, especialmente as de matrizes africanas cultuadas na Pequena África, região visitada, anualmente, por milhares de turistas em busca dos ritmos contagiantes das autênticas rodas de samba. Mas é na sua obra mais famosa, “A Alma Encantadora das Ruas” (1908), que o autor compila as suas crônicas sobre o cotidiano da vida carioca, a urbanização da cidade e a formação das favelas. João dizia que as ruas tinham “alma” e discorria suas percepções sobre cada uma delas, suas características e seus personagens, em um olhar poético e crítico, no auge da Belle Époque carioca.

 

Autores da Literatura pesquisam a Pequena África

Largo de São Francisco da Prainha – Pequena África

 

Além dos clássicos, inúmeras obras literárias retratam – até os dias de hoje – o Rio sob os mais variados aspectos e contextos, o que faz com que cada vez mais os visitantes consigam descobrir espaços para além dos pontos turísticos tradicionais. Se antes os lugares serviam de cenários para os livros, hoje, os livros nos levam a estes cenários!

Com o humor e a crítica do cotidiano, o escritor Leandro Leal publicou, em 2017, o “Profissão: Suburbano”. Trazendo crônicas que ficaram populares nas redes sociais, a obra retrata uma percepção particular para os bairros do subúrbio da cidade. Morador de Cascadura, na Zona Norte, Leandro diz que cada bairro é como se fosse um país e que cada morador do seu país tem um olhar específico para o lugar onde mora. Daí, então, vem o convite para explorar os “países” que existem no continente suburbano carioca.

 

Subúrbio carioca: a Literatura que dá samba

Literatura e outras manifestações da nossa Cultura formam combinações de sucesso! E, apesar de não ser recente, muita gente tem feito descobertas por meio de histórias ou eventos que congregam múltiplas linguagens artísticas. Exemplo disso são os enredos das escolas de samba, que são verdadeiras pesquisas desenvolvidas em áudio (samba, canto e bateria) e visual (alegorias, dança e fantasia). Um fato interessante é que, nos últimos anos, alguns enredos foram inspirados em um livro principal. Isso despertou, além da curiosidade do público, a busca por informações sobre a obra e a forte conexão com as agremiações.

 

Em 2023, a Unidos do Viradouro levou para a Sapucaí o enredo baseado no livro “Rosa Maria Egipcíaca: uma Santa Africana no Brasil”, do antropólogo Luiz Mott. O tema causou grande curiosidade e procura pela obra nas livrarias, cujos exemplares se esgotaram após o desfile, no qual foi vice-campeã. Conforme divulgado na época, a editora precisou imprimir mais cópias para abastecimento das lojas. 

Já no Carnaval de 2024, mais dois desfiles foram inspirados em pesquisas literárias: a Acadêmicos do Grande Rio, com o enredo “Nosso Destino é ser Onça”, título homônimo ao livro do escritor Alberto Mussa e que fala sobre a mitologia Tupinambá; e a Portela com livro “Um Defeito de Cor”, da autora Ana Maria Gonçalves, sobre a saga da escravidão na formação do povo brasileiro.

 

Literatura inspira samba enredo da Portela.

Entrada do Grêmio Recreativo Escola de Samba Portela

 

Especificamente sobre a escolha da Portela, escola azul e branca de Oswaldo Cruz e Madureira, o livro levou para o enredo a perspectiva de Luiza Mahim, mãe do abolicionista Luiz Gama que, por meio do afeto, refaz o imaginário de todas as mães pretas que desejam um futuro vitorioso aos seus filhos, numa sociedade marcada pelos reflexos da escravidão. O desfile rendeu a quarta colocação à escola e o Troféu Estandarte de Ouro de “Melhor Escola do Carnaval de 2024”. Além disso, colocou os bairros em evidência e o livro entre os mais vendidos no pós-carnaval!

O samba, o baile Charme, o jongo da Serrinha, a gastronomia e toda a energia vibrante do cotidiano de Madureira revelam a identidade e ancestralidade do povo. Da estação de trem ao Parque Madureira, passando pelas quadras da Portela e do Império Serrano até o Mercadão, o subúrbio do Rio atrai olhares de quem busca conhecer a cidade com todas as suas vertentes, complexidades e nuances.  

 

Decoração da Casa do Jongo da Serrinha

Casa do Jongo da Serrinha

 

Explorar o subúrbio é permitir-se viver novas experiências e conhecer o que o carioca traz na sua essência, nas suas vivências e nos seus movimentos diários. É se conectar com características presentes na música, na dança e em um modo de vida único, representado pela diversidade – ampla e profunda – construída sob diferentes aspectos sociais, econômicos, políticos e culturais. Uma nova forma de descobrir os “Rios” que fazem parte do “Rio de Janeiro”.

 

Dica Que Mais Tem Lá

 

Navegue pela “Rota Machado de Assis” e descubra o Rio de Janeiro a partir da vida e das obras desse ícone da Literatura Brasileira. Clique aqui e aproveite!

E para saber mais sobre o Rio de Machado, clique aqui.

 

Texto elaborado por Carolina Grimião, carioca raiz, atua no Carnaval há mais de 15 anos e possui suas atividades voltadas para o Samba, Carnaval, Cultura Popular, Mídia e Cidade. Carolina é mestra em Comunicação Social, Professora, Jornalista, Historiadora e Psicopedagoga.

Editado por Cássio Aoqui e Luanda Bonadio.

 

 

 

 

 

 

 

 

Pular para o conteúdo